marți, mai 13, 2008

CFR Cluj 2 x 1 Unirea Urziceni (Cupa Romaniei, Mai 10 2008)

Não deixa de ter um toque quase poético a excelente fase que o CFR Cluj tem vivenciado ultimamente, alcançando suas conquistas mais significativas após nada menos que 101 anos de história. Como os leitores já sabem, o clube de Cluj-Napoca alcançou semana passada o primeiro campionatul romanesc de sua história, superando por um ponto o sempre poderoso Steaua Bucuresti na clasamentul final. E, se alguém julgava que essa conquista era de certo modo um fruto do acaso, pode mudar de idéia - pois menos de uma semana depois o CFR garfou outro título nacional, desta feita papando a Cupa Romaniei com uma vitória de 2 a 1 sobre o Unirea Urziceni - outro clube, aliás, que vivenciou uma temporada diferenciada em sua história.

Para quem não sabe ou não lembra, a Cupa Romaniei é um torneio em play-offs, num estilo bastante semelhante à Copa do Brasil que está atualmente em andamento em território brazilian. No entanto, há uma diferença fundamental envolvida: nada de ida-e-volta, saldo qualificado e essas bobagens - no caso, é jogo único, sem choro nem vela, com toda a garra e pujança do mais verdadeiro fotbal em cada chute e dividida. Desnecessário dizer que a carga emocional envolvida em cada jogo é intensa, e que triunfar num torneio tão sangrento requer nervos de aço e coragem à toda prova.

O jogo decisivo, como na Liga Campionilor, é disputado em campo neutro - e, nesse confronto final entre CFR Cluj e Unirea Urziceni, o meci se deu em Piatra Neamt, mais precisamente no Stadionul Ceahlaul onde nessa temporada os "ursos da Carpathia" vivenciaram melancolicamente a queda para a Liga II. Pela primeira vez em 14 anos, duas equipes de fora de Bucuresti enfrentavam-se na decisão da Cupa - o que, igualmente, garantia por antecipação o primeiro campeão não-bucurestino em 13 anos, desde que o Petrolul Ploiesti triunfara sobre o Rapid em 1995. De um lado, o centenário clube de Cluj-Napoca, disposto a coroar de modo glorioso o que já era o ano mais bem-sucedido de sua história. Para chegar à final, o CFR superou FC Sacele (0-3), Jiul Petrosani (0-1), FC Brasov (1-0) e Dacia Mioveni (0-3) - ou seja, alcançou a final enfrentando apenas echipei de segunda linha e sem sofrer um gol sequer. Um caminho bem mais fácil que o do Unirea, que teve que encarar FC Baia Mare (1-4), Steaua Bucuresti (2-0), Rapid (1-0) e Gloria Buzau (0-1) - sem dúvida, uma média de adversários bem mais pesada que a do time de Cluj-Napoca. Nunca esquecendo que até dois anos atrás os Leões Azuis nunca tinham sequer jogado na Liga I, que dirá aspirado posições de destaque no fotbal de seu país. Não precisava ser Nostradamus para prever um grande meci naquela noite, portanto...

O Unirea começou mais insinuante, atacando forte pelas laterais do campo e criando momentos de verdadeiro terror na defesa dos alb-visiniu - que espantavam o perigo como podiam, na base do chutão para cima e do golpe baixo na boca do estômago. Teria sido esse desequilíbrio inicial, talvez, sinal de ressaca do CFR depois dos festejos selvagens pela histórica vitória no duminica? Difícil afirmar. De qualquer modo, depois de 15 minutos de domínio total do time de Urziceni, o atual campeão romeno reequilibrou as ações - e assinalou sua reação no jogo com um belo chute do lateral Cadu, que estourou contra o poste da goleira defendida por Stelea. Após essa ação de ataque, o CFR Cluj passou a comandar o jogo, e criaria novas oportunidades aos 22, 30 e 31mins, sem no entanto converter esses lances em gol. A coisa estava tão feia para o Unirea que, aos 33mins, o antrenor Dan Petrescu simplesmente tirou o inoperante atacant Stancu, substituído por Onofras. Coincidência ou não, cinco minutos depois desta medida drástica o Unirea teria sua melhor chance na primeira etapa, através do miljocas Pablo Brandan. De qualquer modo, a egalitate em 0-0 se manteve, e os dois times voltaram para os vestiários sem tentos a favor de um ou de outro.

E o que faltou de gols na primeira etapa foi compensado plenamente pelos acontecimentos posteriores ao intervalo regulamentar. Logo aos quatro minutos, o atacant Ruiz resolveu dar um jeito na história e marcou um gol não muito belo, mas altamente efetivo, assinalando o 1-0 pró-CFR Cluj. O gol sofrido, por um momento, pareceu ter perturbado o Unirea, que ao invés de reagir acabou sofrendo minutos de violenta pressão dos alb-visiniu - que quase resultaram em mais um gol aos 12mins, quando Semedo chutou para excelente defesa de Stelea. Um minuto depois, no entanto, o Unirea levantou uma bola na zona de ataque, e o rebote sobrou para Danalache, que marcou um belíssimo gol de voleio, empatando o meci com talento e convicção. Confira o gol de empate dos Leões Azuis, tirado da transmissão direta da TV romena:




Apesar do esforço do clube de Urziceni em manter a igualdade, o fato é que em cinco minutos o CFR Cluj já retomava a dianteira do placar, desta vez para não largá-la mais. Foi um gol que, em seu acabamento final, é quase uma metáfora do que foi a temporada do clube de Cluj-Napoca: depois de um chuveirinho histórico, Semedo teve que chutar duas vezes para assinalar o gol - na primeira vez, o portar do Unirea fez ótima defesa, mas no segundo arremate não teve santo que ajudasse e a bucha acabou sendo inevitável. Para os leitores, o gol do título, com as graças do YouTube:





A partir daí, não teve muito mais o que pudesse ser feito. O Unirea Urziceni, teve bravura, chegou a beliscar o empate com arremates de Munteanu e Onofras, mas a atuação inspirada do portar Stancioiu e a consistência defensiva do CFR acabam anulando esses esforços e garantindo ao clube de Cluj-Napoca seu segundo título nacional em menos de uma semana. A festa, mais uma vez, foi empolgada e empolgante, levando os habitantes de Cluj-Napoca a vivenciar mais uma daquelas madrugadas que não se esquece tão cedo. E eis que o centenário mas humilde clube, que não conquistava um título de nota há quase um século (o último tinha sido a Copa Transilvaniana de 1910) e que tinha como maior glória de sua existência o segundo lugar na Cupa Intertoto de 2005 (quando perdeu nas finala para os franceses do Lens) conquista dois títulos inéditos em um período de menos de quatro dias - sem dúvida, uma semana para entrar para a história do CFR Cluj e de todo o fotbal romaniei.

Final da Cupa Romaniei 2007/2008 (Mai 10, Stadionul Ceahlaul, Piatra Neamt)

CFR CLUJ (2): Stancioiu; Tony, Galiassi, Panin e Cadu; Manuel José (Trica, 71mins), Dani, Sixto Peralta (Muresan, 81mins) e Culio; Semedo e Ruiz (Fabbiani, 77mins). Antrenor: Ioan Andone.

UNIREA URZICENI (1): Stelea; Balint, Galamaz, Munteanu e Bordeanu; Mara (Bilasco, 72mins), Brandan, Ricardo Gomes e Paduretu (Negru, 67mins); Danalache e Stancu (Onofras, 33mins). Antrenor: Dan Petrescu.

Cartonaşe galbene: Manuel Jose (37), Ruiz (63), Stăncioiu (79), Peralta (81) e Fabbiani (90) (CFR Cluj); Galamaz (25), Pădureţu (53) e Munteanu (64) (Unirea). Spectatori: 11.500. Arbitru: Aurelian Bogaciu. Arbitri asistenţi: Marcel Savaniu e Eduard Dumitrescu.

Fotos: ProSport.ro e siteul oficial do CFR Cluj.

joi, mai 08, 2008

Liga I, ultima etapa: CFR Cluj este campioana romaniei!


Pela primeira vez em sua história de 101 anos, o Societatea Sportivă Căile Ferate Române 1907 Cluj, ou CFR Cluj para os menos formais, conquistou o título maior do fotbal mais aguerrido e emocionante do planeta. Vencendo por 1 a 0 os co-irmãos do Universitatea Cluj, o clube de Cluj-Napoca é o primeiro time fora de Bucuresti a conquistar o Romenão em 17 anos, desta forma marcando seu nome definitivamente na história do fotbal romeno. Poderíamos resumir assim os eventos do último miercuri, mai 07, mas acreditamos que os fiéis e perseverantes leitores do Bola Romena querem – e merecem – bem mais. Então prepare-se, leitor(a), porque agora vamos mergulhar de cabeça nos eventos finais do melhor campionatul do planeta, e sangue, suor e mais sangue é o que não vai faltar...

Podemos começar falando dos resultados não tão importantes, e depois irmos rumo ao que realmente interessa, certo? Então tá. Em Galati, o Otelul local e o Poli Iasi fizeram o jogo mais deprimente da rodada: além de não valer absolutamente nada (visto que os dois times não corriam risco de cair e tampouco de conseguir vaga para o que quer que fosse), o meci terminou num insípido 0 a 0, no que aparentemente foi uma das partidas mais sonolentas de todo o Romenão. Mais movimentado, mas igualmente irrelevante, foi o 4 a 1 aplicado pelo Poli Timisoara no Farul Constanta, que pelo menos firmou o clube na sexta pozitia do campionatul, uma das melhores colocações do Poli nos últimos tempos.

Um pouco mais emocionantes, porém igualmente sem maiores conseqüências, foram as partidas envolvendo os clubes já garantidos na disputa da Cupa Uefa. Poderíamos ter tido alguma reviravolta nas posições dos clubes em questão, mas como os três venceram fora de casa ficou tudo igual no fim das contas. Em Vaslui, o Rapid surpreendeu o FC local, e chegou a estar ganhando de 4 a 0, o que sem dúvida seria deveras humilhante para a reputação dos "Galben-Verzii". Destaque para o atacant sérvio Ranko Despotovici, que meteu nada menos que três das quatro buchas dos giulesteni, enlouquecendo o sistema defensivo do Vaslui com suas investidas insinuantes e cotoveladas certeiras. A partir dos 20 minutos da segunda etapa, o time local tomou vergonha na cara, e Mike Temwanjera demonstrou brio digno dos guerreiros romenos (mesmo tendo nascido no distante Zimbabwe) e marcou dois goluri em dez minutos, descontando o placar e confirmando o 4 a 2 pró-Rapid. No final do jogo, as duas echipa resolveram confratenizar ao melhor estilo romeno, e um quebra-pau de grandes proporções tomou conta do campo (foto), resultando em dois cartonase rossi para o Vaslui e um para o Rapid. Coisa linda de se ver, acreditem.

Enquanto isso, o Dinamo encerrava a temporada metendo 3 a 1 no pobre UTA Arad, sacramentando de vez a queda da Bătrâna Doamnă (ou "velha senhora") para a Divizia B do Romenão. Destaque para Ionel Danciulescu, que meteu duas das três buchas dos Canii Rossi e garantiu-se como artilheiro do campionatul com 18 goluri. Pior para o UTA, que viverá os horrores sangrentos da Liga II na temporada que vem e nem o consolo de uma despedida honrosa poderá ofertar aos seus fanáticos suporteri, que estão entre os mais radicais de toda a Romênia. O mesmo, aliás, pode ser dito do Dacia Mioveni, que na sua despedida da Liga I sofreu incômodos 3 a 0 em casa, diante do Unirea Urziceni. Os Leões Azuis fizeram partida brilhante, jogando com determinação invulgar mesmo que a partida pouco ou nada valesse, e não só encerraram a temporada com dignidade como terminaram na quinta pozitia – o que não é nada mal, considerando que a echipa recém vivenciou sua segunda temporada entre os grandes. Os três gols do meci foram assinalados pelo atacant Cristian Danalache.

Se a disputa pelo título foi deveras emocionante (e isso vocês lerão em detalhes logo a seguir), a luta para escapar do descenso não ficou devendo muito em termos de acontecimentos dignos de registro. Como havíamos dito no artigo anterior, o Gloria Bistrita estava folgado, podendo simplesmente empatar com o Pandurii para se safar – mas, para alegria do torcedor-símbolo Vicente Fonseca, os Vampiros Azuis resolveram não dar chance ao azar, e meteram inquestionáveis 3 a 1 na sua despedida do Romenão. Coroian (de panalty) e Muresan fizeram os gols na primeira etapa, mas parecia haver possibilidades de reação do Pandurii Tg Jiu quando Jackson descontou logo aos nove minutos do segundo tempo. No entanto, o recém ingresso Moldovan se encarregou de cortar as asinhas dos 'minerii' e sacramentou o 3 a 1 para a echipa local, livrando definitivamente o auto-intitulado "time de Drácula" de ter que chupar sangue ruim na Liga II. Quem vai comer o pão que o diabo amassou é o Ceahlaul Piatra Neamt, que mesmo favorecido pelos resultados paralelos acabou desabando precipício abaixo (foto acima). Bastaria aos Ursos da Carpathia empatarem seu confronto contra o Universitatea Craiova – igualariam em puncte o Gloria Buzau, mas os superariam na golaveraj. Saíram ganhando, gol de Rusmir aos 14mins, mas afrouxaram a pressão e permitiram ao time local virar o placar, dois gols assinalados pelo miljocas Mihai Dina. Cientes de que bastaria uma egalitate (afinal, o Gloria Buzau estava sendo massacrado pelo Steaua em Bucuresti), o Ceahlaul foi para cima, e mais uma vez Rusmir colocou a bola na rede, inscrevendo o 2 a 2 no placar. Porém, a tragédia caiu sobre o fundas eslovaco Pecea, e um gol contra aos 39 do segundo tempo definiu o 3 a 2 pró-Craiova e o rebaixamento dos Ursos para a Liga II. De certo modo, cumpre-se o destino – afinal, o clube já deveria ter sido relegado na temporada passada, e só permaneceu na Liga I porque um dos times que subiu (o Delta Tulcea) não conseguiu cumprir os requisitos burocráticos e acabou ficando fora do campionatul. Agora, resta aos atletas um longo retiro na montanha Ceahlau, para colocarem a cabeça no lugar e voltarem com ânimo renovado na dura jornada pela Divizia B.

Por fim, depois de toda essa embromação, nada nos resta senão descrevermos as emoções da disputa do título – que, diga-se, não foram poucas. Os dois jogos mais importantes da rodada – U Cluj x CFR Cluj e Steaua Bucuresti x Gloria Buzau – começaram quase ao mesmo tempo, o que até mesmo ampliou a carga emocional das disputas. Em Bucuresti, o Ghencea rugia de excitação, com os fanáticos suporteri do Steaua acreditando na possibilidade de uma reversão de expectativas. Em Cluj-Napoca, um Stadionul Ion Moina semivazio (6000 torcedores onde cabem mais de 25mil) aguardava por um momento que prometia ser histórico para a cidade, independente do placar final do meci. O pré-jogo em Cluj-Napoca foi bastante tenso, com várias agressões entre as torcidas e confronto dos suporteri do CFR com a ‘jandarmii’ romena – ou seja, aquele clima saudável do fotbal que atrai tantas famílias romenas para os estádios. De qualquer maneira, o início dos jogos já deixou claro o que teríamos em cada um deles: em Bucuresti, um Steaua avassalador disposto a massacrar o adversário, e em Cluj-Napoca um CFR cauteloso, tentando pacientemente furar a retranca armada com convicção pelo U Cluj. O Gloria Buzau, que como sabemos ainda corria riscos consideráveis de descenso, simplesmente não conseguia conter as arrasadoras investidas do time da casa, movido especialmente pela sensacional atuação de Dayro Moreno e pela correria dos incansáveis Neaga e Radoi.



Para sermos precisos, o Steaua foi campeão romeno durante cerca de quarenta minutos. Aos vinte minutos do jogo em Bucuresti, Nicolita coloca a bola na meia-lua de ataque e Pepe Moreno chuta de voleio, enganando completamente Barbu, o portar do Gloria Buzau. Era o 1 a 0, comemorado aos gritos pelo antrenor e ‘Fiara’ Marius Lacatus – com esse rezultate, o Steaua ia para 75 puncte, superando o CFR Cluj, que com o empate de momento ficava nos 74. Empate, diga-se, que a essa altura já se mostrava agourento para o centenário clube de Cluj-Napoca – afinal, as chances de ataque eram escassas de ambos os lados, e o ferrolho imposto pelo Universitatea local era eficientíssimo, redundando num jogo truncado e sem maiores articulações ofensivas. Um quadro de sonhos para o Steaua, que só não foi ainda mais animado para o vestiário porque não conseguiu ampliar o placar no Ghencea ainda no primeiro tempo, apesar de várias boas oportunidades de gol.

Na volta do intervalo, as coisas pareciam ainda mais encaminhadas para que o Steaua conquistasse o título da temporada. No Ion Moina, continuávamos com um meci tenso e arrastado, sem muitas jogadas de real perigo, enquanto no Ghencea o time da casa amassava sem dó o adversário – o que aos 17mins da etapa final, resultaria no segundo gol dos ros-albastrii, assinalado por Dayro Moreno após bela jogada individual. Com o 2 a 0, a vitória do Steaua estava muito bem encaminhada – restava saber como o CFR Cluj se comportaria no disputadíssimo jogo de Cluj-Napoca. Diga-se, a bem da verdade, que o Universitatea Cluj foi echipa muitíssimo valente, jogando com dignidade e esforçando-se ao máximo para não permitir a vitória ao CFR. Preocupado com o andar da carruagem, o antrenor Ioan Andone havia substituído Dubarbier por Ruiz no intervalo – e essa troca acabou sendo decisiva para o título. Poucos minutos depois do segundo gol em Bucuresti, o mesmo Ruiz que entrara no intervalo em Cluj-Napoca tentou interceptar um cruzamento e foi derrubado dentro da área pelo fundas brazilianul Fábio Bilica – e o arbitru Ovidiu Hategan não hesitou em assinalar o panalty para o CFR Cluj. Desnecessário dizer aos amigos leitores/as que a tensão nesse momento foi gigantesca em toda a Romênia, e os cerca de quatro minutos de discussão até que finalmente tudo estivesse pronto para a cobrança devem ter durado sete semanas e meia para os suporteri de Steaua e CFR – e, por que não dizer, para os admiradores do fotbal romeno em todo o mundo. Depois de muita indecisão, ficou para o lateral português Cadu a responsabilidade de cobrar o lance capital, e todo o país parou no meio da tarde para ver o desfecho daquele lance. Foi um chute forte, quase no meio do gol, mas que acabou vencendo o portar Merlier e assinalando o 1 a 0 para o CFR Cluj. Era o gol do título, o momento mais importante de toda a história do clube – e abaixo vai o link do vídeo, retirado da TV romena (reparem em especial no impressionante desconsolo do arqueiro Mercier por não ter conseguido defender a cobrança):

http://www.youtube.com/watch?v=qmlRGSXEG6w&feature=related

Com o placar a favor do CFR, de pouco adiantava o Steaua empilhar gols em Bucuresti – e a partir daí a situação se tornou ainda mais dramática, com o time da capital fazendo gol atrás de gol enquanto acompanhava atentamente todos os lances de Cluj-Napoca, torcendo desesperadamente por uma mudança no placar. Logo após o gol do CFR, Neaga marcou o 3 a 0, logo depois ampliado por Mendoza após lindo lançamento de Badea. Enquanto isso, o U Cluj tentava recuperar o ‘blat’ perdido e partia para cima do CFR, que se resguardava como podia e retinha a bola o maior tempo possível, sem mais assumir atitudes ofensivas. Era um jogo pouco brilhante tecnicamente, mas altamente eficaz para os interesses do futuro campeão – e as coisas ficaram ainda melhores aos 32mins da etapa final, quando o miljocas Edvan foi expulso, deixando o Universitatea com um homem a menos e facilitando a iniciativa embromadora do CFR Cluj. A essa altura, o fato de Daryo Moreno fazer um belíssimo gol e colocar o placar em 5 a 0 para o Steaua era meramente formal, uma vez que só um empate no Ion Moina faria com que a victori do time de Bucuresti fizesse diferença. E o empate não veio: apesar de várias iniciativas ofensivas do U Cluj, o placar ficou em 1 a 0 e o CFR Cluj pôde finalmente comemorar um título nacional, o primeiro em mais um século de fotbal. Desnecessário dizer que as ruas de Cluj-Napoca foram tomadas de uma festa poucas vezes vista, enquanto o Ghencea vivenciou um dos pós-jogos mais lúgubres de sua história, já que mesmo após uma goleada estrondosa os militarii se viam sem a conquista tão almejada. Mas é assim que o fotbal é: enquanto um comemora, o outro chora lágrimas de sangue enquanto coloca uma tala na perna fraturada – e podemos dizer que a festa dos novos campeões, embora talvez um pouco empolgada demais em alguns momentos, acabou enchendo de alegria o fim de tarde na Romênia. Como aliás o fotbal romaniei nunca deixa de fazer.

No fim das contas, a classificação final do campionatul romanesc ficou assim:

1) CFR Cluj (76 puncte) – campeão e classificado para a fase de grupos da Liga Campionilor
2) Steaua Bucuresti (75) – classificado para a fase eliminatória da Liga Campionilor
3) Rapid Bucuresti (61) – classificado para a Cupa Uefa
4) Dinamo Bucuresti (61) - classificado para a Cupa Uefa
5) Unirea Urziceni (61) - classificado para a Cupa Uefa
6) Poli Timisoara (57)
7) FC Vaslui (47)
8) Otelul Galati (46)
9) Universitatea Craiova (43)
10) Gloria Bistrita (42)
11) Poli Iasi (41)
12) Pandurii Tg Jiu (40)
13) Farul Constanta (40)
14) Gloria Buzau (37)
15) Ceahlaul Piatra Neamt (36) – rebaixado para a Liga II em 2008/2009
16) Dacia Mioveni (31) - rebaixado para a Liga II em 2008/2009
17) UTA Arad (26) - rebaixado para a Liga II em 2008/2009
18) Universitatea Cluj (23) - rebaixado para a Liga II em 2008/2009

Por enquanto é isso, então. A redação do Bola Romena parabeniza o CFR Cluj pela belíssima campanha e pelo título nacional, justa recompensa a uma administração competente que soube montar para o CFR o melhor time de sua história. Apesar do final da Liga I, a temporada do fotbal na Romênia ainda não acabou – temos ainda, por exemplo, a decisão da Cupa Romaniei, com o mesmo CFR Cluj enfrentando o surpreendente Unirea Urziceni pela conquista do mata-mata mais mortífero de toda a Europa. O jogo em questão ocorrerá no simbata, mai 10 - e vamos dar uma conferida, evidentemente. Para os próximos dias, um apanhado do que foram as últimas semanas do fotbal romaniei, incluindo uma análise crítica do que foi o Romenão, considerações sobre a Liga II (que, embora já tenha praticamente definido seus campeões, ainda terá jogos até o fim de maio) e, quem sabe, algumas palavras sobre a seleção romena, que tem boas condições de fazer bonito na Eurocopa. Saudações a todos, e até lá.

Fotos: ProSport.ro e romaniansoccer.ro

marți, mai 06, 2008

Liga I: agora eu quero ver!

Ao contrário da temporada passada, quando o Dinamo Bucuresti levou a taça para o armário com várias rodadas de antecipação, em 2007-2008 teremos a satisfação de um campeonatul romanesc emocionante, que irá para a rodada decisiva com uma disputa vivíssima pelo título. CFR Cluj era favoritaço até o recesso de inverno, mas desde que o Steaua Bucuresti encostou na tabela a disputa tem se mantido emocionante, com várias idas e vindas na liderança do campeonatul. Para a Etapa 33 (a penúltima do Romenão), o Steaua marchava com dois pontos de vantagem (72 a 70), depois de algumas vitórias convincentes (a última fora de casa, 2 a 1 no Universitatea Craiova) e contando com sucessivos tropeços do CFR Cluj (o último, uma derrota em casa de 2 a 1 para o frágil Farul Constanta). Na penúltima rodada, CFR pegava em casa o instável Gloria Bistrita, enquanto os ros-albastrii encaravam um clássico contra o Dinamo, na casa do inimigo. Promessa de emoções, meus amigos(as) - e assim foi.

CFR Cluj x Gloria Bistrita aconteceu no simbata, e para sermos honestos foi um jogo arrastado e meio monótono. No primeiro tempo, praticamente não ocorreram lances de registro para qualquer um dos lados – mesmo porque o Gloria ainda enfrenta chances remotas de rebaixamento, e armou um ferrolho para cima do time da casa. Não que o CFR Cluj estivesse especialmente entusiasmado para rompê-lo, mas enfim. Talvez uma carraspana do ‘antrenor’ Ioan Andone tenha acordado os jucatori, pois a echipa voltou mais animada para a segunda etapa – e já aos nove minutos o miljocas argentino Dubarbier abriu o placar, com uma bucha de rara eficiência, se não exatamente um show de plasticidade para os padrões ocidentais. Confira o gol, surgido da rápida cobrança de uma falta:

http://www.youtube.com/watch?v=U5yUYnZX90c

Feito o gol, o time local tratou de segurar o resultado, sem maior preocupação em ampliar o escore – e, como o Gloria Bistrita desta temporada não é exatamente a melhor echipa que o fotbal romanesc já viu, o placar não teve mais alterações e ficou nesse minguado mas efetivo 1 a 0 para o CFR Cluj.

E o clássico bucurestino, vocês me perguntam? Bem, Dinamo x Steaua se deu no duminica, e esse eu diria que foi bem mais interessante e movimentado. Do início ao fim do meci, tivemos duas equipes interessadas no jogo e em busca do resultado – mesmo o Dinamo, que mesmo sem chances de alcançar a Liga dos Campeões queria muito a vitória, porque afinal de contas vencer em clássico sempre vale a pena. E foi aos 40mins, após uma rápida triangulação ofensiva do Dinamo, que o jucatori Danciulescu (o melhor em campo, sem dúvida alguma) acabou sendo derrubado por Zapata, portar colombiano do Steaua, sendo assim assinalado o panalty. Bratu cobrou com categoria, assinalando o 1 a 0 para os canii rossi – e comemorando de maneira provocativa, arrancando a bandeirinha de escanteio do chão e apontando-a, tal uma baioneta ou metralhadora, para os suporteri do Steaua. Uma atitude confrontadora e belicosa, que tão bem se encaixa no espírito guerreiro do povo romeno e que foi reconhecida pelos torcedores do ros-albastrii com o entusiasmo sangrento que era de se esperar. O gol parece ter pesado sobre os atletas do Steaua, que voltaram a campo após o intervalo um pouco desfocados do meci – o que foi punido pelos deuses do futebol da maneira esperada: aos 12mins, Danciulescu receptou de carrinho um cruzamento pela esquerda, assinalando sem dó o 2 a 0 para o Dinamo. Resultado, sem dúvida, trágico para as pretensões de título dos militarii – que, animados pelos gritos coléricos do antrenor Marius Lacatus (e provavelmente também pelas ameaças de corte de salário do presedinte Gigi Becali, colérico como sempre), começaram a esboçar uma lenta mas perceptível reação. Aos 24mins da etapa final, Ghionea cabeceou entre os zagueiros e descontou para o Steaua – o que, compreensivelmente, botou fogo no jogo. Mais do que o esperado, inclusive: ao final do jogo, um quebra-pau de grandes proporções tomou conta do gramado, e depois de muito dedo no olho e chute na canela tivemos Bratu (Dinamo) e Dica (Steaua) premiados com o sempre inspirador cartona rossi. Não que isso tenha interferido no placar final, que acabou mesmo sendo 2-1 para o Dinamo, mas serviu para encher de requinte o final de um clássico agitadíssimo.

Com a combinação de rezultate, o CFR Cluj retomou a liderança do campeonatul, tendo agora 73 puncte – um a mais que o Steaua, que com a infrangeri acabou estacionando nos 72. Como só falta uma rodada para o fim do Romenão, o time de Cluj só depende de si mesmo para conquistar, no ano em que comemora 101 anos de existência, o primeiro título nacional de sua história. E a partida que talvez seja a mais importante da história do clube não poderia ser mais adequada: um clássico local contra o Universitatea Cluj, clube que aliás já garantiu sua volta para a Liga II e que pela lógica dificilmente conseguirá fazer frente ao atual líder do campeonatul. Vencendo, o CFR Cluj mete a mão na taça e entra para a história do Romenão, sem se preocupar com resultados paralelos. Já o Steaua Bucuresti vai precisar vencer o Gloria Buzau – que luta para não cair e ainda tem boas chances de fugir do precipício – e torcer desesperadamente para que aconteça no máximo uma egalitate no confronto de Cluj-Napoca. Gigi Becali, aliás, já entrou em campo, apelando para a “honra” e o “sentimento patriótico” do U Cluj – ou seja, oferecendo polpuda recompensa caso o lanterninha consiga reverter a lógica e acabar com as pretensões do co-irmão. Seria uma aposta razoavelmente segura acreditar em vitórias de ambos os líderes – o que, no fim das contas, garantiria o título do CFR Cluj. Mas não ignoremos o retrospecto recente: o time de Cluj-Napoca tropeçou em momentos inconvenientes, enquanto o Steaua vem em campanha de recuperação e vinha há 12 rodadas sem perder antes de cair diante do Dinamo. Não é absurdo, portanto, dizer que o Steaua ainda está vivo, e bem vivo, na disputa pelo caneco. Saberemos nessa quarta-feira, quando os confrontos de fato ocorrerem.



Abaixo, a tabela da rodada decisiva do Romenão, seguida de uma breve análise do que cada um dos clubes envolvidos pode pretender conseguir. Todos os jogos ocorrerão na próxima quarta, a partir das 16h (horário de Bucuresti). Enfim, lá vai:

Steaua Bucuresti x Gloria Buzau
U Cluj x CFR Cluj
Dacia Mioveni x Unirea Urziceni
FC Vaslui x Rapid Bucuresti
Poli Timisoara x Farul Constanta
Gloria Bistrita x Pandurii Tg Jiu
Otelul Galati x Poli Iasi
UTA Arad x Dinamo Bucuresti
Universitatea Craiova x Ceahlaul Piatra Neamt

CFR CLUJ (73 puncte) e STEAUA BUCURESTI (72 puncte): São os dois times que brigam pelo título do campeonatul romanesc. Como explicado acima, o CFR Cluj é a única echipa que só depende de si mesma para levar o caneco: ganhando do U Cluj, garante o primeiro Romenão da sua história. Pode ser campeão também empatando ou mesmo perdendo, mas aí fica na dependência de uma não-vitória do Steaua contra o Gloria Buzau. Já os ros-albastrii precisam necessariamente vencer, além de torcerem por um tropeço do time de Cluj. As possibilidades de resultado são as seguintes:

CFR Cluj vence: CFR Cluj campeão, independente do resultado de Bucuresti
CFR Cluj empata ou perde e Steaua vence: Steaua campeão
CFR Cluj empata e Steaua empata ou perde: CFR Cluj campeão
CFR Cluj perde e Steaua empata: decisão na golaveraj, e a confirmação do campeão dependerá do tamanho da derrota do CFR. Os saldos de gols são +26 para o CFR e +24 para o Steaua, e CFR Cluj venceria no número de gols marcados. Se perder por um ou dois gols, o atual líder ainda assim leva a taça; três ou mais de diferença darão o título para o Steaua.
CFR Cluj perde e Steaua perde: CFR Cluj campeão

RAPID BUCURESTI, DINAMO BUCURESTI E UNIREA URZICENI (58 puncte): Já garantiram vagas para a Cupa Uefa, e também estão totalmente alijados da disputa do título – ou seja, já não têm praticamente mais nada para fazer no campeonatul. A única luta, no caso, é pelos privilégios na competição continental, tentando fugir de fases classificatórias e coisas do tipo. Todos jogam fora de casa, contra echipa que não têm nenhum interesse especial na rodada, de modo que fica difícil apontar tendências – embora o confronto do Rapid contra o FC Vaslui seja teoricamente o mais difícil.

POLI TIMISOARA (54), OTELUL GALATI (46), FC VASLUI (45), POLI IASI, PANDURII TG JIU, UNIVERSITATEA CRAIOVA e FARUL CONSTANTA (40 puncte): Cumprirão tabela, somente. Não alcançam mais competições continentais e também estão matematicamente livres do rebaixamento para a Liga II – ou seja, fazem tão-somente suas melancólicas despedidas da temporada 2007/2008, já em clima de preparação para o campeonato seguinte.

GLORIA BISTRITA (39), GLORIA BUZAU (37) E CEAHLAUL PIATRA NEAMT (36 puncte): Lutam para fugirem da única vaga ainda aberta para o relegamento à Liga II em 2008/2009. Nessa briga inglória, a situação mais tranqüila é a do Gloria Bistrita: se conseguir sustentar um empatezinho furreca em casa contra o desmotivado Pandurii, já se garante na Divizia A ano que vem. Mesmo perdendo, se salva se o Ceahlaul não ganhar fora de casa contra o Universitatea Craiova. O que não é inconcebível, visto que o Ceahlaul passou nada menos que dez rodadas sem sentir o doce sabor de uma victorii – o jejum acabou no fim de semana, com o 2 a 1 sobre o Poli Timisoara. O bicho é mais feio para o Gloria Buzau, que vai a Bucuresti pegar um Steaua engajado na luta pelo título e sedento pela vitória. O Ceahlaul luta para vencer e para que o time de Buzau não consiga mais que uma egalitate – o que convenhamos, já seria prodígio suficiente nas atuais circunstâncias. Novamente, é difícil qualquer prognóstico, mas acreditamos que a briga mesmo é entre Gloria Buzau e Ceahlaul, com ligeira vantagem para o segundo – a queda do Gloria Bistrita é possibilidade muito mais remota.

DACIA MIOVENI (31), UTA ARAD (26) E UNIVERSITATEA CLUJ (23 puncte): A essa altura, já planejam suas atividades na Liga II na próxima temporada. Dos três, Dacia e U Cluj estão encerrando breves visitas à Divizia A, enquanto a queda do UTA Arad é um pouco mais lamentável, posto que o time já estava há algumas temporadas entre os grandes. De qualquer modo, trocarão de lugar com os já definidos egressos da Liga II: FC Brasov, CS Otopeni (pela Seria 1), FC Arges Pitesti e Gaz Metan Medias (pela Seria 2).

Por enquanto, é só. Regressamos na quinta ou na sexta, com o resumo da rodada final do campeonatul romanesc – e, é claro, com a justíssima e sangrenta festa do campeão, seja ele de Cluj-Napoca ou de Bucuresti. Até lá, então.