joi, iunie 12, 2008

ROMÊNIA 0 X 0 FRANÇA: que não vença ninguém!

Demorei mais do que gostaria, devido a compromissos profissionais, mas antes tarde do que nunca. Para vocês, o relato do primeiro meci da echipa nationala romaniei na Euro 2008 - uma partida marcada por muita bravura e pela dedicação incansável dos romenos contra a badalada seleção francesa. Como o jogo em si já se passou faz algum tempo, não vou ficar muito num "scout" lance a lance, preferindo as percepções mais gerais do que foi esse confronto. Certo? Então, lá vai:


O zero a zero é, provavelmente, o placar mais chocho e sem graça do futebol. Geralmente, indica uma partida modorrenta, cansativa, na qual os clubes pouco fizeram e que tão pouco apresentaram que nenhum deles fez por merecer a abertura de placar. Um confronto chato, sem qualidade, sem animação e brilhantismo - em suma, um porre de vinho de garrafão na antevéspera de ano novo, coisa desagradável mesmo. Bem, talvez no futebol seja assim mesmo - mas no fotbal, que é sempre o foco de nosso olhar por aqui, a história não raro é totalmente diferente. O meci entre Romênia e França, abertura do Grupo C da Euro 2008, ficou no 0 a 0 - para alguns um resultado pouco emocionante, talvez, mas um placar que trouxe grandes emoções e considerável satisfação para os fanáticos suporteri do fotbal mais sensacional do planeta Terra. Apesar dos defeitos, foi um placar mais positivo do que negativo para a Romênia, em um embate que nos dedicaremos a analisar aqui a partir de agora.

Como costuma ocorrer quando lidamos com desconhecedores do fotbal al romaniei, os tricolorii entraram no gramado do Letzigrund Stadiom de Zurich com o status de zebras do grupo. Não importa se, nas eliminatórias da mesma Euro no ano passado, os romenos superaram os holandeses nos confrontos diretos e na classificação final; muito menos se Itália e França vivem momentos de questionamento de seus jogadores e/ou de comissão técnica. Para o mundo alienado, a Romênia é o azarão, o time a ser vencido, aquele para o qual não se pode perder pontos e por aí vai. Mal sabem, os tolos, que é o desafio que move os jucatori da echipa romena, e que os romenos têm uma longa história de cumplicidade com o desafio e com as conquistas tidas como impossíveis. E com emoção cantaram os romenos o "Deşteaptă-te, Române!", hino nacional composto por Andrei Muresanu e Anton Pann - em especial o belíssimo segundo verso, que tão bem resume o espírito de constante enfrentamento que move a alma romena:

Acum ori niciodată să dăm dovezi în lume
Că-n aste mâni mai curge un sânge de roman,
Şi că-n a noastre piepturi păstrăm cu fală-un nume
Triumfător în lupte, un nume de Traian!

Quanto ao jogo em si, o antrenor Victor Piturca optou por um esquema cauteloso, sóbrio, que contivesse efetivamente as articulações ofensivas dos 'Bleus' sem abrir mão exageradamente das movimentações no campo de ataque. E ninguém poderá discutir o fato que, pelo menos na primeira parte da tarefa, a Romênia foi extraordinariamente bem sucedida. Faceirinha como de hábito, e ainda por cima comemorando o feito de seu capitão Thuram - que completou 15 jogos em fases finais de campeonatos europeus de seleções, o novo recorde entre atletas daquele continente - o selecionado gaulês estava armado para atacar, contando especialmente com a criatividade de Ribery e a pontaria do atacante Benzema. No entanto, o sistema defensivo romeno mostrou-se virtualmente inexpugnável na maior parte do meci - e, apesar de uma breve superioridade francesa nos primeiros minutos, logo o sistema ofensivo dos 'Bleus' se viu neutralizado pelo eficiente ferrolho dos 'tricolorii', lembrando os melhores momentos do Steaua Bucuresti na final da Liga Campionilor 85/86. Com grandes atuações de Chivu, Contra e Radoi, o selecionado romeno conseguiu impor sua força defensiva, anulando as principais armas da França e limitando as iniciativas francesas a alguns avanços de Anelka. O resultado foi que, salvo algumas poucas aproximações e jogadas de perigo, a França nunca impôs grande pressão e não chegou a estar realmente perto de abrir o placar. Ponto para Piturca e para a Romênia, literal e metaforicamente.

O problema foi o segundo lado da tarefa. Mutu, sem dúvida nossa atual fortaleza ofensiva, viu-se mal acompanhado por Daniel Niculae, e essa dupla poucas vezes conseguiu criar verdadeiras dificuldades para a defesa gaulesa. Sem ter quem se aproximasse, o atacant destaque do último campeonato italiano via-se isolado quase sempre, e apenas quando Banel Nicolita (um dos melhores jucatori em campo) conseguia um deslocamento mais efetivo é que a Romênia criava algum perigo à meta de Coupet. A jornada de Mutu foi de fato apagada, tanto que o jucator acabou sendo substituído na segunda etapa. De qualquer modo, para uma echipa que se propõe à contenção defensiva, a saída rápida no contra-ataque torna-se a melhor (não raro a única) opção ofensiva - e infelizmente a echipa nationala era lenta nesse quesito, sem muita criatividade e muitas vezes insistindo em passes curtos e improdutivos que só diminuiam mais o já pouco vibrante ritmo ofensivo dos tricolorii. Para muitos - eu incluído - a entrada do elétrico Marica seria muito mais adequada ao jogo promovido pela Romênia, dando muito mais rapidez aos contragolpes e multiplicando as possibilidades de conclusão. No entanto, o homem ficou no banco e de lá não foi chamado, pois Victor Piturca fez duvidosas opções por Marius Niculae, Codrea e Dica, o que pode ter garantido o interessante empate mas impediu a Romênia de talvez ambicionar algo maior.

Ruim? De modo algum - afinal, a "zebra" do grupo conseguiu um empate respeitável contra o atual vice-campeão mundial, e encontra-se mais vivo do que nunca na briga por uma das duas vagas para as quartas-de-final. O próximo adversário será complicado, não nos iludamos - apesar do estrepitoso 3 a 0 sofrido contra a Holanda, ou talvez mesmo por isso, a Itália virá determinada a buscar a reabilitação e precisando do resultado para seguir viva na luta. Nas palavras do próprio Victor Piturca, "no fundo não importa qual dos dois ganhe (Itália ou Holanda), pois precisamos nos preparar bem para enfrentar a Itália, que é um jogo que não podemos perder". Será a senha para mais uma partida contida e de pouca ambição ofensiva do fotbal romeno? Talvez - mesmo porque é sempre bom nos apegarmos ao que se faz melhor, e até as torneiras do Letzigrund Stadiom sabem que a Romênia monta um ferrolho como poucos no mundo são capazes. Mas, ao mesmo tempo, o antrenor indica que no próximo meci teremos "o verdadeiro Mutu em ação", o que tanto pode indicar uma renovada confiança no atacant quanto uma nova postura de ataque do selecionado da amarelinha (não aquela). Mesmo que Marica tenha sofrido um corte na cabeça durante o treino pós-jogo, sua presença em campo segue sendo possível e esperada por grande parte dos suporterii romenos - que, aliás, deram um show no meci contra a França, pintando as arquibancas de amarelo, vermelho e azul e apoiando incansavelmente, levando o "Hai, România!" às ultimas consequências. Claro que não ocorreram as sempre tão belas brigas coletivas nas arquibancadas, pois os romenos sabem que esse tipo festivo de integração não é bem visto pelos ocidentais - mas esse pequeno pormenor foi contornado e todos puderam ver que, em termos de fanatismo, os romenos são especialistas mundiais. E que venha a "squadra azzurra", pois os guerreiros romenos estão prontos e teremos um meci de alta dramaticidade, para lembrar as batalhas dos romanos contra os dácios que tanta importância tiveram na constituição do povo romeno. Nos vemos todos sexta às 13h, na frente da TV. Hai!

ROMÊNIA 0X0 FRANÇA
Letzigrund Stadiom, Zurich, Suíça - Joi 09 2008
Arbitru: Manuel Mejuto González (Espanha)

ROMÊNIA (0): Lobont; Contra, Tamas, Goian e Raţ; Cociş (Codrea), Radoi (Dica), Chivu e Nicolita; Mutu (Marius Niculae) e Daniel Niculae. Antrenor: Victor Piturca.
FRANÇA (0): Coupet; Sagnol, Thuram, Gallas e Amidal; Tulalan, Makelele, Ribéry e Malouda; Anelka (Gomis) e Benzema (Nasri). Antrenor: Raymond Domenech.

Fotos: Reuters e siteul oficial da Euro 2008.

4 comentarii:

Juliano spunea...

Natusch, obrigado pela recepção. Ficarei feliz em contribuir. E seguirei leitor assíduo.

Meci memorável hoje, noastra echipa nationala não tão temerosa quanto do embate contra a França. Mutu, uma pena.

Farei um texto com calma para este qualificado espaço. Um abraço.

Vicente Fonseca spunea...

A Romênia talvez seja o time teoricamente menos qualificado, mas de forma alguma pode ser considerada um azarão. Basta lembrar que chegou à frente desta Holanda que vem encantando a todos e ainda conseguiu empates jogando equilibradamente com os dois melhores times da Copa de 2006.

Juliano spunea...

Não deu, mas os Tricolorii foram aguerridos do imn national ao apito final. Ficou evidente a carência de poder ofensivo. Os Niculae tentaram, mas jogaram imersos na marcação competente da Holanda. Nicolita em péssima jornada comprometeu as poucas subidas romenas. Enfim, Piturca destacou o mérito de haver freado os campeões e vice. Concordo. Mas se Romania pensa em figurar no principal cenário do futebol mundial, precisa urgentemente distribuir o talento que tem do meio para trás para além do grande círculo. Detalhe: a zaga gremista é a mehlor do Brasileiro, mas eu imploro a contatação do fundas Gabriel Tamaş. Excelente zagueiro. Abraço.

Anonim spunea...

Nicolita em péssima jornada comprometeu as poucas subidas romenas.