Lăcătuş: 'A Besta' vive!

Como de hábito em se tratando do Bola Romena, é chegada a hora de dar destaque a mais um dos tantos nomes que fazem a honra e a glória do sempre empolgante futebol romeno. Desta vez, vamos ao passado, e lembremos da carreira e dos feitos de um dos nomes mais emblemáticos que o esporte do Leste Europeu já viu: Marius Lăcătuş, o Renato Portaluppi romeno, um ícone da bola no pé e do dedo no olho que o Bola Romena, respeitosamente, se põe a homenagear a seguir.

Nascido no dia 05 de abril de 1964 na cidade de Brasov, Marius Mihai Lăcătuş estreou no futebol em 1981 via FC Brasov, um dos mais destacados times locais. Desde jovem, o ‘jucator’ já demonstrava um talento e uma dedicação incomuns, e não surpreende que logo tenha ganhado o sintomático apelido de Fiara (A Besta). Afinal, o jovem Lăcătuş era diabólico com a bola no pé e monstruoso com a trava na canela alheia, predicados sempre apreciados no aguerrido fotbal româniei. O ‘atacant’ logo chamaria a atenção do Steaua Bucuresti, e estabeleceria uma relação tal com o clube que até hoje os ‘militarii’ idolatram sua figura, e gritam em coro seu nome sempre que Lăcătuş visita o Ghencea, independente das cores que esteja defendendo.

Se somarmos os dois períodos distintos em que Lăcătuş defendeu o Steaua, teremos um total de dezesseis temporadas e um impressionante número de dezessete títulos nacionais, sendo dez deles na Liga 1 e sete na Cupa Romaniei. Além disso, foi ele um dos nomes proeminentes na maior glória do Steaua e de todo o futebol romeno: o título da Copa dos Campeões da Europa em 1986. Na histórica decisão de Sevilha, Lăcătuş contribuiu de modo dedicado no ferrolho imposto pelos ‘antrenori’ Emerich Jenei e Anghel Iordanescu, segurando a bola no ataque sempre que possível, e foi o primeiro jogador a acertar a bucha nas antológicas cobranças de pênalti daquela noite: chute alto, forte, no meio do gol, no melhor estilo romeno de ser. Além disso, defendeu 84 vezes a seleção romena, em um longo período de quatorze anos (1984-1998), tendo disputado as copas do mundo de 1990 e 1998. É dele, inclusive, o gol 700 da história da seleção nacional.

Após os dois anos defendendo o FC Brasov, e os sete de sua primeira passagem pelo Steaua, Lăcătuş foi contratado pelos italianos da Fiorentina. Consta que as duas buchas marcadas por Fiara no jogo contra a URSS, válido pela Copa do Mundo de 1990, encantaram de tal modo os ‘Viola’ que a contratação se tornou questão de honra para o clube fiorentino. No entanto, parece que Lăcătuş estranhou o estilo mais ‘plástico’ de ‘La Liga’, e o banzo que sentia das batalhas campais e das fraturas múltiplas nos campos carecas de sua Romênia natal acabou prejudicando seu desempenho. Jogou apenas uma temporada na Fiorentina, marcando míseras três buchas em 21 jogos, e acabou despachado para os espanhóis do Real Oviedo em 1991. Talvez inspirado pelos relatos das longas e sangrentas batalhas contra os mouros, Lăcătuş se animou um pouco, e dois anos defendeu as cores azul e branco, marcando sete golos em seus 51 embates defendendo os ‘oviedín’.

Na metade de 1993, o saudoso ‘Fiara’ voltou ao Steaua, e consolidou ainda mais a imagem de multicampeão que construíra em sua primeira passagem pelos ‘ros-albastrii’. Apesar de não ser mais um jovem garoto, seguiu impressionando as massas com sua dedicação e seu renovado prazer em marcar buchas e abrir supercílios alheios. Em 2000, depois de uma trajetória estelar junto aos ‘militarii’, juntou-se ao FC National Bucuresti, mas percebendo que não mais tinha o mesmo furor e não mais sentia o mesmo prazer com os gemidos de agonia dos adversários, resolveu que era bastante, e aposentou-se dos gramados antes mesmo do fim da temporada. No entanto, os laços ainda o prendiam ao clube, e a solução encontrada foi no sentido de Lăcătuş assumir o papel de ‘antrenor’ assistente – e essa situação abriu todo um novo caminho na carreira do grande ‘Fiara’.

Em 2002, ele aceita a proposta do Farul Constanta, e se torna técnico dos ‘marinarii’ por cerca de seis meses, antes de retornar a sua cidade natal para comandar os guerreiros do FC Brasov, o time que o viu nascer no fotbal. Ficou no clube por um ano e meio e, depois de um curto período como assistente técnico na seleção romena, assumiu o cargo de ‘antrenor’ no Ceahlaul Piatra Neamt.

Em 2005, a surpresa: Marius Lăcătuş é convidado para assumir nada menos do que a presidência do Steaua Bucuresti, clube que defendeu na maior parte de sua carreira e no qual seu nome era visto como um verdadeiro mantra sagrado. Comandou o clube por uma vitoriosa temporada, na qual os ‘militarii’ levantaram a taça da Liga 1, mas ao fim do ano confessou, com lágrimas nos olhos, que estava cansado das insossas disputas de gabinete e sentia muita falta do odor de sangue e suor dos gramados romenos. Assim sendo, pediu dispensa de seu trabalho honroso e assinou com o UTA Arad. No clube, ele atua como ‘antrenor’, mas surpreendente consta também no plantel de ‘jucatori’ do ‘Bătrâna Doamnă’ – ou seja, a qualquer momento o ‘Fiara’ pode surpreender e vestir novamente as chuteiras para o que der e vier. No momento, a ‘velha senhora’ está na ‘pozitia’ 8 do campeonatul romanesc, e a vitória sobre o Jiul Petrosani (que será comentada mais detidamente em artigo a ser publicado em brevíssimo) é a prova de que o ‘Fiara’ segue sendo nome emblemático para o esporte romeno, espalhando glória e poças vermelhas por onde quer que passe. Um verdadeiro orgulho para o fotbal româniei.

Como bônus, dois links para vídeos de belos 'goluri' do 'atacant':

http://www.youtube.com/watch?v=SaljOc75m7Q (primeiro gol contra a Rússia, na Copa do Mundo de 1990)

http://www.youtube.com/watch?v=Xmq8zzznhTg (uma bela bucha, marcada contra o IFK Gotemborg em 1989)